OS DOIS MÁGICOS
Novembro 2, 2018UM homem tinha um filho muito esperto mas era tão pobre que vivia das ervas do monte e da água da fonte. Um dia o filho diz-lhe que o mande estudar artes de mágica com um mágico que estava morando na cidade. O velho levou o rapaz e ofereceu-o para criado.
— Sabe êle ler? perguntou o mágico.
— Não, meu senhor, disse o pai do rapaz.
O rapaz sabia perfeitamente ler e, quando o mágico viajava, atirava-se aos livros, lendo-os a todos e aprendendo de cor a sabedoria do mestre. No fim de um ano, despediu-se, recebeu a soldada e voltou para junto de seu pai.
— Ouça cá, disse êle ao velho — vou-me tornar num cavalo e vá vendê-lo à feira, bem caro. Antes de receber o dinheiro tire a brida e a traga na mão para casa. Eu virei nesta brida.
Transformou-se num cavalo e o pai vendeu-o por muito bom preço, tirando a brida e a trazendo para casa. O rapaz voltou a ser homem e o cavalo, que fora posto numa estribaria, desapareceu como fumo ao vento.
Dias depois, o> rapaz voltou a dizer a mesma cousa e o pai aceitou, puxando-o para a feira transformado num cavalo lindo. O velho mágico estava na feira e reconheceu o antigo criado na forma do animal. Vendo que êle aprendera as artes e n queria rival, ofereceu tanto dinheiro pelo cavalo q o pai do rapaz esqueceu-se de retirar o freio quando o quis fazer já recebera o pagamento e mágico não no permitiu.
Levou este o cavalo para casa, deu-lhe umas chi cotadas e deixou-o sem comer, amarrado. Um cria do, entrando na estribaria, julgou de bem ir dar de beber ao animal e chegando ao rio tirou-lhe o freio para que bebesse com mais liberdade. Logo que o fez, o rapaz disse: ai de mim uma sardinha! E saltando para a água desapareceu. O mágico, que estava à janela, correu, pulou para dentro do rio dizendo: ai de mim um dourado! Tornou-se o peixe dourado e perseguiu o rapaz com toda a velocidade. Este, vendo que era apanhado, disse: ai de mim uma pombinha! Saiu voando depressa. O mestre por sua vez, disse: ai de mim um gavião! E seguiu a pombinha como uma flecha. A pombinha avistando o gavião, recorreu às mágicas: ai de mim uma flor na mão daquela moça que está à janela. A moça tomou um susto vendo aparecer-lhe na mão uma flor de rara beleza. O velho mágico voltou a ser homem, chegou à porta e ofereceu uma bolsa de ouro pela flor, dizendo ser para remédio. A moça não quis aceitar mas seu pai, ouvindo o oferecimento, mandou que aceitasse. A flor, então, disse que a moça não a entregasse na mão do comprador e sim a atirasse para o chão, aos pés dele. Assim o fez a moça e a flor se tornou num verme branco que se foi metendo pela terra. O mágico tomou a forma de uma galinha e precipitou-se para engolir o verme. Este transformando-se em uma doninha, matou a galinha em dois tempos e devorou-a. Depois tomou a forma humana e foi agradecer à moça o auxílio que lhe dera em sua luta com o mágico. Gostaram um do outro, casaram e viveram bem.
Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.
Veja também:
O Burro e o Leão
O monge e a prostituta.