“Nunca confie em puxa sacos. Lembre-se que o homem acaricia o cavalo só para poder montá-lo.”

Fevereiro 13, 2020 Não Por love amem

Puxa-saco: a outra profissão mais antiga do mundo

Não há momento histórico nem círculo de poder sem sua proximidade. Os bajuladores, mais conhecidos como puxa-sacos, estão em toda parte: na política, no jornalismo, no esporte e, possivelmente, também no lugar onde você trabalha. Nesse texto, tento entender um pouco mais sobre o funcionamento desses indivíduos de carreiras longas e, às vezes, bem sucedidas.

Breve história do puxa-saquismo

Se a prostituição é a mais antiga das profissões, o puxa-saco talvez tenha nascido junto com a primeira cortesã que se destacou na carreira. Quem sabe um dia a ciência prove que há um milhão de anos, quando o hominídeo aprendeu a controlar o fogo, ao seu lado já havia alguém elogiando o brilho de seus pelos para poder desfrutar do calor sem se esforçar muito.

A língua mostra que o puxa-saco, assim como a prostituta, possui uma lista farta de sinônimos: escova-botas, capacho, chupa-caldo, zumbaieiro, bajoujo, banhista, lambe-esporas, pelego, sorrabador, sabujo, bajulador. Em cada região há uma variação para definir o puxa-saco, assim como tudo que é fácil de se encontrar na natureza.

A bajulação é um fenômeno humano que sobrevive à evolução da espécie e às transformações políticas e tecnológicas. Nem as novas profissões estão livres dela.

Recentemente, o YouTuber Whindersson Nunes desabafou sobre sua depressão. Chamo atenção para um ponto específico do seu texto que dizia: “Eu estou rodeado de abutres, urubus, cada um querendo a sua fatia do bolo, e ver tantas pessoas ruins me deixa deslocado”. Poderia apostar que entre os “abutres” está uma legião de puxa-sacos, todos esperando pelo retorno de investimento de seus favores interessados.

O puxa-saco segundo Shakespeare

Há diferentes tipos de puxa-saco, a maioria inofensiva.

Atualmente eles podem ser encontrados aos montes nas redes sociais. Soltando afagos públicos para seus influenciadores preferidos (mesmo se eles cometem deslizes ou postam comentários absurdos), mandando aquele carinhoso elogio para o chefe que postou foto do happy hour (para o qual ele não foi convidado) ou mesmo remando de acordo com a tendência da vez para agradar a quem ele busca proximidade. Os puxa-sacos são o centrão da sociedade.

Mas há também puxa-sacos sórdidos. Aqueles que bolam planos, calculam seus movimentos e tem a paciência para dar o bote na hora certa.

Em Shakespeare há sempre muitas lições. Nesse caso, a primeira é que puxa-sacos são capazes de boas ações (ou ao menos de atitudes que parecem boas). Por isso confundem e embaralham sentimentos de tanta gente. Não se engane: suas atitudes benevolentes não são de amizade, nem altruísmo, mas de oportunismo. O pacote de bondades de um puxa-saco é dado com uma mão enquanto a outra está aberta esperando a recompensa.

Puxa-sacos são capazes de boas ações (ou ao menos de atitudes que parecem boas). Por isso confundem e embaralham sentimentos de tanta gente.

Outro aprendizado da tragédia serve para os próprios puxa-sacos. Eles são descartáveis. Um dia acabam superados por uma versão atualizada, mais esperta e eficiente de bajuladores 2.0 ou, com o perdão do trocadilho, não conseguem manter seu teatrinho em pé por todo o tempo. Um dia a máscara cai.

Há quem goste

Sim, mas há quem goste de puxa-sacos. No fundo, ele é como um parasita que se aproveita de uma oportunidade que a natureza lhe dá ou, para ser mais direto, de um sentimento demasiado humano e que não tem previsão para deixar de existir: a vaidade. É nela que está o terreno fértil onde germinam os puxa-sacos. É óbvio, mas não custa ressaltar. Reis, imperadores e CEOs que gostam de cultuar a própria imagem e personalidade têm mais chances de atrair bajuladores.

Em tempo: dizem que o termo puxa-saco tem origem militar. Oficiais levavam suas roupas em sacos, mas não carregavam os próprios sacos de roupas. Quem levava eram os subalternos, assim chamados de puxa-sacos.

 

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