Sem meias palavras e com a habitual dose de humor que lhe é atribuída, Francisco resolveu colocar à porta do quarto e do escritório onde trabalha – também em julho e agosto, já que prescindiu de ir de férias para a residência papal de verão, em Castel Gandolgo – uma tabuleta para afastar todos os que o procuram com problema de sobra para resolver.
“”É proibido lamentar-se”, diz o letreiro que o próprio Francisco pendurou à entrada dos seus aposentos. Foi uma prenda de um psicólogo, à qual o Papa decidiu dar uso para evitar quem só lhe leva problemas”
Os infratores estão sujeitos a uma síndrome de vitimização que reduz o seu sentido de humor e capacidade para resolver problemas”, está também escrito no letreiro, que lhe foi oferecido pelo psicólogo italiano Salvo Noé, autor de livros de auto-ajuda, que o Papa recebeu no passado mês em audiência.
Ao receber a prenda, o Papa terá prometido colocá-la na porta do seu quarto e escritório privativo, na Casa Santa Marta, uma residência modesta encostada à Basília de S. Pedro.
Como bom cristão, Francisco cumpriu a promessa e colocou o letreiro à porta, no qual também é sugerido a quem só vê problemas à frente, a tentar resolvê-los por sua conta.
Para ser o melhor de si mesmo, você deve concentrar-se no seu próprio potencial e não nos seus limites. Por isso, pare de reclamar e aja para mudar a sua vida para melhor”, lê-se ainda no aviso.
Pimentões em conserva
Desde que chegou ao Vaticano, após ter sido eleito Papa, em 2013, Francisco marcou a diferença pelo ar bem disposto e jovial. Meses após ter sido entronizado, ficou na memória aquilo que disse numa reunião aos fiéis: “Às vezes, há cristãos melancólicos com rostos que parecem pimentões em conserva, com caras tão longas, ao invés de serem alegres com a vida bela que têm”.
Apesar do otimismo, problemas não têm faltado ao pontificado de Francisco. Além dos escândalos relacionados com a pedofilia – caso do que envolveu o cardeal australiano George Pell -, o Papa tem colecionado, senão inimizades, pelo menos alguns ranger de dentes entre figuras gradas do Vaticano.
No último mês, o cardeal Gerhard Mueller não foi reconduzido como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, um departamento cujas raízes até remontam à Inquisição. E antes disso, como recorda o jornal britânico The Telegraph, foi o auditor geral do Vaticano, Libero Milone, a sair sem conseguir cumprir a tarefa de trazer transparência às finanças da Santa Sé.
Aparentemente, essa será uma tarefa de dificuldade divina, quando se sabe que, nesta mesma semana, a Santa Sé anunciou que iriam a julgamento dois altos responsáveis de um hospital pediátrico do Vaticano em Roma. São acusados de terem desviado cerca de 422 mil euros para remodelar um luxuoso apartamento do cardeal Tarcisio Bertone, que foi o secretário-geral e número dois da Igreja, até ser afastado pelo Papa Francisco em outubro de 2013.